O que é meditação?
- Breno Xis
- 31 de out.
- 15 min de leitura
Atualizado: 1 de nov.
Transcrição da palestra "O que é meditação?", realizada no Hospital Universitário Onofre Lopes, em 24/10/2025.

Bom dia! Tudo bem com vocês? É um privilégio enorme estar com vocês hoje. Tenho alguns encontros com o pessoal da saúde. É uma conexão que se estabeleceu na minha vida. Alguns anos se passam e aí a gente volta a conversar de novo. Boas vindas.
Hoje fui convidado pelo Dr. Rodolfo Soares, coordenador do projeto "Diálogos Conscientes" do Hospital Universitário Onofre Lopes, para conversar um pouquinho sobre meditação; e meditação é uma palavra “guarda chuva”, como medicina. O que é medicina? O que é enfermagem? O que é cuidado? Então, se vamos conversar sobre essas palavras, precisaremos colocar um “s” depois de todas elas. O meu tema de hoje é trazer uma história da meditação e modelos de meditação. E no final, quero aplicar algo disso ao campo da gestão hospitalar e, mais especificamente, ao cuidado dos profissionais e das profissionais de saúde.

Para começar, gostaria de iniciar por uma história. No início, era a mente, o corpo e o mundo. No começo, nós éramos pessoas que viviam em um mundo estranho, selvagem. Muitos fenômenos nós não conhecíamos. Observem que não mudou muito. Dentre essas pessoas, tínhamos investigadoras e também cuidadoras, investigadores e curadores. Esses dois tipos de pessoas são responsáveis pelo surgimento das ciências, das ciências médicas, das ciências do cuidado e da filosofia. No passado, não havia médicos ou médicas, enfermeiros ou enfermeiras, nós tínhamos pessoas interessadas em entender os o quês e os comos do mundo. Investigadores e investigadoras perguntavam “O que é?”. Cuidadoras e cuidadores perguntavam “Como?”. Os dois são a mesma pessoa.
Uma coisa interessante quando a gente quer quebrar alguns estereótipos sobre a meditação é compreender a origem das palavras, essa é a ciência conhecida como Etimologia. Na etimologia descobrimos que meditação, medição, médica, medicina e medicamento, todas essas palavras nascem de uma raiz comum, indo europeia, de onde o nosso português vem. E nessa grande família indo europeia, “med-” é a origem dessas palavras. E o radical “med-” significa, em sua primeira acepção, ponderar, cuidar, prestar atenção, se debruçar. Então, num primeiro momento, meditação, medição, medicina, médica, medicamento e médico estão todos no mesmo balaio. Quando vamos para medição, meditação e medicina, vemos que medição significa ponderar o mundo: engenheiras, físicos. Meditação significa ponderar a mente: atualmente, psicologia. Lá atrás, filosofia; os estóicos, por exemplo, a psicologia estoica. E medicina, ponderar o corpo. Esse ponderar o corpo tem a ver com esses grandes médicos e médicas criando sistemas de tratamento complexos. A medicina que a gente tem hoje em dia é uma medicina muito particular, primeiro, do Ocidente e, mais especificamente, da modernidade em diante. Tem a ver com uma certa lógica filosófica específica chamada Positivismo. Então, essa medicina lá atrás envolvia muitas coisas, como a Ayurveda, um sistema de cuidado do corpo e da mente que faz uso substâncias, massagens, meditação, um cuidado que tem a ver com ouvir ou oferecer atenção. Então, ponderar o corpo; esse corpo era entendido de maneiras muito mais complexas. O corpo não era uma máquina. O corpo também era mente. A mente vivia no mundo. Portanto, as estruturas sociais e materiais importam.

Quando eu coloco a palavra “therapeia”, ela junta, para os gregos, essas três ponderações. O terapeuta grego era essa pessoa que estava fazendo a junção desses mundos passíveis de ponderação. Essa pessoa meditava. Um terapeuta grego muito importante foi o médico Sexto Empírico. Esse cara sistematizou um tipo de terapia filosófica que nós conhecemos como Pirronismo. A função dessa terapia: diminuir o sofrimento gerado pela precipitação exagerada em pensamentos dogmáticos, precipitações automáticas e juízos acelerados. E aí os pirronistas treinaram, com a ajuda dos estoicos e de outras tradições, porque estava tudo conectado em uma grande trama linda, uma habilidade de suspender o juízo. Isso é chamado de epochê, que levava a uma qualidade mental chamada ataraxia, não-perturbação. Então a terapia, essa palavra que a gente tem hoje em dia, que parece vaga e pede qualificadores - psicoterapia, terapia manual, terapia do trabalho - essa terapia, lá em sua origem, significa nada mais, nada menos, do que atender com atenção. Isso é o que significa therapeia.

Agora, um detalhe. A palavra atenção vem do verbo atender. Então, terapeuta originalmente é quem atende. Quando você olha para a sua mente com atenção, você está praticando therapeia. É uma boa therapeia? Não é uma boa therapeia? Precisamos pensar sobre isso. Mas quando pensamos a therapeia como atender com atenção a partir da concepção dos antigos, a gente está pensando em atender os mundos.
Nós precisamos desta sala de auditório, deste hospital. Como que nós prestamos atenção no meio ambiente para poder, por exemplo, pegar um pouco do sol e um pouco do vento para arejar estes ambientes. Isso tem a ver com ponderar o mundo, ponderar o mundo de um hospital. Portanto, física, engenharia e assim por diante. Ponderar as mentes, porque há muitas mentes: sua mente e a mente dela e sua mente, você aí atrás. Ponderar cada uma das mentes. Como nós ponderamos as mentes? Através de certas habilidades que vamos treinando. Nós temos uma capacidade de consciência que nasce com a gente, que está no bebê. Finalmente, os corpos, porque percebemos que a mente e o corpo estão juntos. Quem trabalha com pessoas sabe desse fenômeno que é o adoecimento psicossomático. Nós sabemos, por exemplo, que estressores culturais podem causar dificuldades fisiológicas, pressões sociais, estressores políticos, estressores financeiros, o trabalho pode gerar doenças. Então vemos a therapeia como atendimento de tudo isso, atender com atenção. Agora, sim, eu gostaria de tentar uma resposta temporária sobre o que entendo por meditação, hoje: atender com atenção.

Quero mostrar para vocês um modelo terapêutico muito antigo que vocês provavelmente conhecem. Hoje em dia, ele se transformou em modelo médico, mas esse modelo é um modelo filosófico, ele nasce com a filosofia. A filosofia está interessada em problemas e diagnosticar problemas, e a filosofia compreendeu que para diagnosticar problemas é preciso investigar a causalidade. E esse é o campo da etiologia. A gente é muito esperto na busca por mexer nos elos causais de uma estrutura. Meditamos as causalidades. Então, temos no início do modelo o diagnóstico e a etiologia. Depois vem o prognóstico: é muito importante saber que o que você está tratando pode ter tratamento. Que tratamento é esse? Qual é o custo desse tratamento? Se não tem tratamento, o que eu faço? O prognóstico me diz também um pouco sobre o tratamento propriamente dito. Ele informa o tratamento. Diagnóstico, etiologia e prognóstico vão me dar o tratamento. Quando eu vou nos três, tenho tratamento. Como é que eu trato para diminuir a ansiedade? Como é que trato para aumentar as capacidades que nós temos de interagir com os nossos egos que, de vez em quando, estão meio abalados com as coisas que só nós sabemos, de forma que a gente conviva nesta sala sabendo que vai haver tensão, mas gerenciando de uma maneira mais humanizada, por exemplo, mais racional e mais amável. Finalmente, o resultado. A gente tem um tratamento, a gente quer um resultado. Uma coisa sobre esse modelo, que é o modelo terapêutico, isto é, o modelo de prestar atenção na causalidade das coisas com o fim da cura. Cura, aqui, significa que você selecionou, de tudo o que é possível, algo. Portanto, a palavra curadoria. Quando vamos a um museu, encontramos uma pessoa que é responsável pela curadoria das peças do museu. Ela selecionou as peças adequadas e tirou o ruído. Vocês estão fazendo isso o todo tempo.

Deixem-me focar especificamente na meditação. Quando a gente pensa meditação como atender com atenção, isso é um modo de ver a meditação. Vou mostrar para vocês rapidamente onde que a gente se encontra atualmente no campo científico da meditação, a pesquisa da meditação hoje. Só para vocês terem uma ideia de como a coisa andou. No começo, temos muitos estudos sobre benefícios da meditação. Essa é a primeira onda. A meditação tem benefícios, essa é a tese, essa é a hipótese. Ela pode reduzir o estresse; pode ajudar a gente a ter uma qualidade de vida melhor; pode apoiar nossa compreensão de algumas coisas. Temos bastante pesquisa nesse campo. Já tem quase duas décadas que estamos fazendo esse tipo de pesquisa aqui no Ocidente. Mais recentemente, começamos a nos interessar pelos mecanismos causais que permitem essas mudanças. Aí entra um pouco o pessoal da neurociência, da neurofenomenologia. Entram as equipes transdisciplinares, entram as imagens, os correlatos neurais, as pesquisas qualitativas em grupos, como o grupo que está aqui, como o grupo que está lá na UFRN, com os professores. Então, quais são os mecanismos? Por que a meditação funcionaria? Etiologia, causalidade. Mais recentemente ainda, a nova área da pesquisa científica sobre a meditação são as fronteiras da meditação avançada. Eu, pessoalmente, vou grifar a palavra “avançada” porque, pra gente que medita, essa palavra é meio pegadinha. Mas o pessoal da neurociência gosta desses termos. Eu acho que é um pouco problemático, mas não vou falar sobre isso agora. O fato é que em fronteiras de meditação avançada, essa galera está pesquisando meditadores meditando há 30, 40 anos, consistentemente. Vocês devem ter visto imagens dessas pessoas com a cabeça cheia de eletrodos, um monte de gente pesquisando alterações encefalográficas em tempo real enquanto a pessoa medita. A ideia é o que acontece com essas pessoas depois que elas passaram 40 anos praticando a meditação específica delas. E a gente vai descobrindo coisas muito interessantes, coisas que desafiam a versão convencional da ciência, que é mais materialista, mais positivista, mais atomizada. E isso traz uma visão de experiências de consciência bastante incomuns cultivadas diligentemente por essas pessoas. Então, eu só queria mostrar para vocês essa evolução da pesquisa científica da meditação.

Quero voltar para a primeira onda da pesquisa científica da meditação, que são os benefícios. Quando pensamos a meditação e estamos destacando benefícios para a saúde, eu gostaria de enfatizar dois domínios: a meditação pode ser vista como um treinamento pessoal. Nós sentamos nossas bundas na almofada ou na cadeira e entramos em contato com nosso corpo e fazemos a nossa prática, e há algumas práticas e modelos para todo mundo. E aí a gente resolve algumas coisas ali, ou deixamos que algumas coisas se resolvam para observar melhor. Lembrem que estamos tentando buscar a etiologia. Então, queremos ver como uma coisa vem a ser. E fazemos isso muitas e muitas vezes, até que a gente tem um estalo! Essa dimensão que estou falando é uma dimensão que podemos chamar de pessoal. Estou falando, por exemplo, da melhoria das funções executivas, mais especificamente da atenção executiva. Vocês estão usando a atenção de vocês nesse momento. O que é a atenção? Quais são as características de uma atenção robusta? Quando pensamos em atenção executiva, estamos falando de uma atenção que faz coisas. Portanto, ela precisa, por exemplo, de uma capacidade de ser sustentada. Uma pessoa que não consegue sustentar a atenção dela por vários fatores vai ter uma experiência de uma mente muito agitada, onde a atenção vai pra todo lugar. Ela quer ler um livro, ela não consegue. Quer ouvir uma pessoa com atenção, não consegue. Frequentemente, não é porque tem muito pensamento, não. É porque a atenção está flácida. Então, uma função executiva requer sustentação. Sabe outra coisa interessante que a atenção executiva faz por nós? Ela ajuda a orientar o que nós estamos prestando atenção. Ela orienta a realidade. Vocês estão prestando atenção aqui, portanto, não estão prestando atenção ao primeiro andar. Neste momento, o primeiro andar do Hospital Universitário Onofre Lopes não existe para vocês de maneira consciente. O psicólogo William James dizia que a atenção, a qualquer momento, é aquilo que seleciona a realidade¹. A função da atenção é focar, selecionar, manter. Se sua atenção está tendo dificuldade em fazer isso, temos que cuidar dela. Outro benefício da meditação é a redução dos efeitos da desatenção e da divagação mental. Ora, esse benefício é efeito de uma atenção executiva bem treinada. E aí, vamos ter um terceiro benefício que é o aprimoramento da autoregulação emocional. Eu vou trabalhar isso quando a gente chegar na questão hospitalar. Mas o que quero lembrar é que isso aqui, de modo geral, é domínio pessoal. Nós estamos fazendo isso lentamente, na forma de uma práxis, de uma prática onde nos sentamos ou nós vamos caminhar, ou vamos estudar, vamos entrar em contato com a nossa experiência, vamos cuidar da gente. Os gregos tinham um termo para isso, epiméleia heautoû, que é traduzido pelo filósofo Michel Foucault como cuidado de si². Portanto, no campo da prática pessoal, meditação pode ser vista como cuidado de si e ascese.

O segundo domínio, que a gente fala menos, é que nós estamos aqui, juntas e juntos. Ninguém é uma ilha. O corpo hospitalar é um coletivo, uma comunidade de comunidades. Então, quando nós cuidamos daquilo em nós que pede uma atenção curativa, nós temos o surgimento da possibilidade de habilidades pró-sociais. Quando pensamos em habilidades pró-sociais, estamos aprendendo como é que a gente, com as nossas feridas, com as nossas faltas, com as nossas potências, com a dor de dente, com o pé na bunda que a gente levou do namorado, da namorada, uma paixonite, como é que a gente se conduz em meio a nossas dificuldades no ambiente de trabalho sem surtar o ambiente de trabalho ou comunicando com os nossos colegas, as nossas colegas, que aquele não é um bom dia pra gente, sendo assertivo, fazendo uso dos ganhos de uma maior intimidade com nossas dificuldades, como diz uma amiga, “sofrendo melhor”. Isso está em habilidades pró-sociais, mas que qualidades estão dentro dessa categoria “pró-sociais”? Daí eu trouxe um artigo. Esse artigo é uma meta análise. Do ponto de vista acadêmico, é um tipo considerado mais robusto de artigo: um artigo sobre artigos. E essa meta análise tem a ver com habilidades pró-sociais. Uma revisão sistemática meta-analítica dos efeitos da meditação na empatia, compaixão e comportamentos pró-sociais Eu selecionei para vocês um trecho do resumo do artigo: “Clínicos e professores de meditação devem estar cientes de que a meditação pode melhorar emoções e comportamentos pró-sociais positivos”.

Agora, chegamos num ponto onde passamos por uma história da meditação, onde ela é definida como o treino em atenção, debruçar-se com atenção. Nós entendemos um pouco que esse debruçar-se com atenção tem a ver com o mundo, tem a ver com o corpo, tem a ver com a mente. Mundo, corpo e mente podem ser meditações. Então, o que é meditação? Não seria melhor dizer “O que são as meditações?” Como meditamos? Meditações no plural.
E aí eu quero trazer para vocês uma pequena prática, antes de seguir com o nosso percurso. Nessa prática, vou pedir para que vocês se coloquem, de maneira gentil, com a coluna ereta. Nós vamos fazer uma prática muito simples. Faremos outras práticas mais tarde, então essa é uma prática muito rápida. Quero mostrar uma coisa para vocês sobre o que significa trabalhar com a atenção. Vocês vão fechar os olhos, vocês estão em um ambiente seguro, vocês estão em uma sala do HU. Vou pedir para que vocês entrem em contato com o corpo de vocês o melhor que puderem. Notem que vocês estão atentas. Não há esforço para prestar atenção ao que vocês sentem. Vocês já estão aí. Por favor, levem a atenção de vocês para o barulho do ar condicionado. Ouçam relaxadamente por alguns segundos… Por favor, levem a atenção de vocês para o contato dos pés de vocês no solado dos sapatos. Sintam relaxadamente por alguns segundos… Por favor, levem a atenção de vocês para as mãos em contato com as mãos ou com os tecidos das roupas de vocês. Sintam as mãos relaxadamente por alguns segundos… Agora, se possível, relaxem o corpo um pouco mais. E agora mantenham a atenção de vocês desfocada. Soltem o esforço. Repousem sem nenhuma necessidade de se esforçar em nada. Inspirem profundamente, com delicadeza. Notem que a atenção está na respiração. Expirem com delicadeza. Por favor, voltem.
Vocês notaram o que aconteceu? Muitas coisas aconteceram, muitas funções mentais, corporais, funções executivas, cinestésicas, foram usadas por vocês para vocês orientarem a atenção e sustentarem, ouvir, levar e permanecer, e notar e inferir características: aqui é quente, aqui não é quente… Isso é a operação da meditação. Vocês todas estão fazendo isso. Não é nada de mais. É uma habilidade.
Porém, algumas pessoas nesta sala podem não ter gostado dessa prática. Podem ter tido dificuldade com essa prática. Tudo bem. Sabe por quê? Porque quando pensamos em meditação, pensamos em um universo de meios, assim como na medicina. A medicina é composta de várias especialidades. A meditação também. Você pode começar, por exemplo, buscando cultivar estabilidade mais aberta: mindfulness. Ah, mas mindfulness é difícil para mim, eu preciso de uma prática mais de concentração, mais focal com suporte de um objeto. Ok, sem problema, shamata, calmo permanecer. Ah, mas eu gosto de analisar as coisas, investigar as razões, as causalidades. Certo, meditação analítica. Ah, mas eu quero ver melhor como as coisas aparecem. Não tem problema: Insight; Vipassana, ver melhor, categoria enorme de práticas. Pessoas muito intelectualizadas às vezes gostam disso. Eles gostam de pensar, analisar, quebrar em miúdos. Não tem problema. Meditação não tem a ver com parar de pensar. Mas, para algumas pessoas, diminuir o ritmo do pensamento e notar os pensamentos é legal. Ética? Ah, cara, eu não tenho tempo para nada de sentar e fazer isso. Eu posso ter uma meditação que seja mais no dia a dia? Sim. Por favor, quando você vir ao hospital, observe os modos como você reage diante das pessoas, das situações, experimente formas de ser uma pessoa menos agressiva hoje. Ah, mas eu quero uma meditação que me conecte com algo maior do que eu, que fale mais diretamente ao meu coração. Tudo bem, temos as meditações devocionais para as pessoas que querem uma relação com algo maior do que elas. Às vezes elas usam rosários, mantras, preces, algumas linhagens fazem prática com visualização de deidades, ok? Vejam, muitas abordagens e modelos. Então, se você não gostou ou não fez sentido a prática que eu acabei de fazer, saiba que esse universo é muito grande. Provavelmente você precisa encontrar algo para você.

O que isso tem a ver na gestão hospitalar? Como que a gente aplica? Ora, diagnóstico, prognóstico e tratamento. Vamos usar esse modelo filosófico, fruto de muita meditação teórica e prática, para abordar a questão nesse tempo final que me resta. Vamos começar com o diagnóstico. Eu coloquei algumas coisas no slide: tomada de decisão sob estresse crônico. Vocês devem saber o que é isso. Faz sentido? [Alguém diz: Sim]. Saturação sensorial e burnout. Fazem sentido esses? Querem uma explicação de saturação sensorial? Isso aqui: Vocês chegam no hospital. Mil coisas: Ouvido, olho, boca, ruído, ação, tal. Em menos de meia hora, você está assim [mima uma pessoa caminhando vergada, com um grande peso nos ombros]. Agora, há quanto tempo vocês estão vivendo todo dia essa experiência de saturação? Burnout. Diagnóstico: Temos uma complexidade hospitalar com problemas. Ok. E o nosso prognóstico? A gente tem etiologia. A gente fez uma etiologia disso aqui. Qual é o nosso prognóstico? Na minha opinião, o prognóstico é “tratável!”. Joinha, com algumas dificuldades. Podemos tratar. “Mas Breno, a meditação não vai me ajudar a resolver os problemas de casa, questões financeiras imediatas.” É verdade, estamos falando aqui em um processo de complementação, a meditação te ajuda em algumas coisas. Ela não é uma panaceia. Mas no caso que estamos destacando em nosso diagnóstico da experiência hospitalar de vocês, ela diz que há fatores tratáveis pela contribuição dela. Como é que a meditação pode atuar? Ela pode fazer uma intervenção etiológica. Qual? Na saturação do sistema atencional. A atenção de vocês está saturada de emoções, percepções, eu, outro. Difícil demais. Muita bagunça, muita coisa. Carga, sobrecarga. É difícil, hein? A gente tem um corpo de 80, 90, 50 quilos, 100 quilos. Aí a gente anda como se tivesse 200 toneladas. Tem a ver com essa sobrecarga, uma saturação atencional. A meditação pode intervir nisso. O que o Rodolfo e o Madruga estão fazendo nas áreas deles e a Danielly vai falar mais sobre isso também na área dela tem a ver em alguma medida com a diminuição da saturação atencional. Esse é um certo sentido da prática. Mas não é só isso. Há mais coisas que essas práticas fazem por nós. Tratamento! Um tratamento possível é o protocolo de mindfulness, especificamente do Dr. Kabat-Zinn, que é esse médico que pegou lá no Budismo uma prática específica de um contexto gigantesco de outros métodos e visões. Provavelmente, o que está sendo implantado aqui no HU tem relação com o protocolo de mindfulness do Kabat-Zinn. Uma outra modalidade de tratamento está na rubrica do treinamento da mente, uma categoria gigantesca com muitos métodos. Os tibetanos têm uma palavra para ela: Lojong, com um monte de métodos que podem ser estruturados de diferentes maneiras e etapas. Olha, cada pessoa nasce num lugar, tem uma especificidade, uma predileção. Então o treino da mente com muitos métodos faz sentido, digamos assim pela capacidade de customização dos protocolos. Mindfulness é um protocolo de treinamento da mente. Ah, mas e o corpo? Também está aqui. Cada pessoa precisa ser ouvida e tudo mais.

E aqui chegamos na questão de que é importante se conectar com pessoas que conheçam, que já estejam no caminho antes da gente. Eu vou encerrar a minha fala me lembrando da importância de ter o contato com professores e professoras. Em alguns momentos, a prática da meditação chega em alguns lugares que aquilo é legal você ter uma base teórica e possivelmente alguém para ajudar. É um pouco como a medicina. Você faz uma intervenção. A intervenção gera um efeito colateral. Aquilo está previsto no protocolo. Você vai lá e cuida do efeito colateral. Não é nada de mais, está previsto. Você vai lá e faz farmacologia, mas você precisa de alguém de farmaco para pensar interações medicamentosas. A meditação é assim também. Requer um cuidado e uma ciência, uma filosofia e uma terapia, ok? Uma prática de cuidar de si. Nós somos um pouco complexos.
Bom, quero agradecer a atenção de vocês. Estou deixando um QR Code para vocês. Tem um link para o meu site. Se quiserem saber mais algumas informações acessem por ele. Quero agradecer a vocês. Obrigado também ao Rodolfo, por proporcionar as condições para esse encontro aqui no Hospital Universitário. Tem uma pessoa que eu preciso citar neste momento que é Geissy Araújo. Ela é uma pessoa muito importante, fez esse contato entre nós, renovando nossa conexão e possibilitando uma nova rodada de nossa conversa. Gostaria de agradecer ainda aos demais palestrantes que vêm a seguir: Marcos Madruga e Danielly Galvão. Mandem ver!
Referências:
James, W. The Principles of Psychology. Vol. II. New York: Dover, 1980/1958, p. 322
Foucault, M. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2010, p.4.






Comentários